segunda-feira, novembro 14, 2005

Saudade

Hoje o pai e a mãe foram passear de bicicleta. A manhã esteve linda, contrastando com a tarde. Para além do frio e vento, está um dia tristonho, nem dá vontade de ir para nenhum lado. Domingo ,dia de família, ainda sinto mais a tua ausência. Estaria a mãe a imaginar como iria mobilar o teu quarto, a começar a comprar as tuas primeiras roupinhas. A mãe viu num blog a palavra anjo e é isso tu também és o nosso anjinho, que tiveste que partir. Foste o escolhido porque eras doce.




Descança em paz meu amor. Saudades dos papás.

domingo, novembro 13, 2005

A Tequilla


Achámos que a Tequilla tambem devia participar neste blog, uma vez que é ela que nos tem acompanhado desde há quase 8 anos e seria quem te iria aturar as tuas primeiras travessuras!!
Como quase sempre que não está na rua a caçar, ela está nesta fotografia a dormir, pelo que te pede desculpa...
Para onde quer que olhemos, tu estás lá. Não passa um minuto sem que nos lembremos de ti.
Está a chegar o Natal, época de reunião familiar e tu não estás aqui. Na televisão só se vê anúncios a brinquedos e outros com bebés, imensas colegas da mãe estão grávidas, tudo junto ainda nos faz sentir mais a tua ausência e condiciona o nosso pensamento durante todo o dia, como se fosse necessário!...
Sempre que a mãe se despe e vê a cicatriz por onde te tiraram, não consegue evitar de pensar em ti. É a única prova física da tua existência.
Rasgaram-me..... e não tive hipótese de te salvar. É tão difícil explicar o que sinto. Tocar-me e sentir que já não estás dentro de mim. Olhar para o pai e vê-lo triste. Mesmo que tentêmos levar as nossas vidas para a frente as coisas são diferentes. Imaginar que está tudo bem é uma simples ilusão. Nesta altura a mãe estaria atenta aos teus simples movimentos para chamar o pai para te poder sentir. Como seria tão maravilhoso ver-mos o brilhar dos seus olhos. Mas isso não aconteceu! Agora só nos resta imaginarmos os teus olhos castanhos, o teu cabelo claro, o teu cheiro doce e a tua pele macia. Ó meu amor que saudade que sinto de ti!

A chuva cai lá fora o que pôe a mãe ainda mais tristonha. Só me reconforta o crepitar da lareira.
Continuamos cheios de saudades tuas e ansiosos por te dar um irmãozinho ou zinha, tanto faz.
Amamos-te muito. Muitos beijinhos dos pais que te adoram muito, bebé lindo.


Até amanhã.

terça-feira, novembro 08, 2005

O regresso ao médico.

Fomos pela primeira vez ao médico.
Aparentemente está tudo bem com a mãe, e foi-nos recomendado esperar pelo menos 3 meses até começar-mos a tentar arranjar-te um maninho. Tanto tempoooooooo.......

Estamos calmos, serenos e com muitas saudades tuas.

Este fim de semana, recebemos a visita de uma prima da mãe, grávida de 6 meses, que quando telefonou a dizer que vinha perguntou ao pai se estávamos sozinhos em casa e amargurados e disse-lhe que nos queria vir mostrar a barriguinha!!!...Será possível???
O pai mal falou durante toda a tarde... e mãe esteve toda a tarde com conversas de circunstância e desesperada por mudar de assunto, que se centrou invariavelmente nas suas experiências de gravidez e muuuuitos comentários pouco felizes "Depois tu vais-me dizer se não tenho razão!!", "Quando chegar a tua vez, logo verás!"...
Qual será a necessidade disto? O egoísmo é tanto que cega? Será ingenuidade? Ou será que estamos demasiado sensíveis? Será que a extrema felicidade de uns proíbe outros a estarem tristes? Espero que sejamos nós a estar sensíveis, porque senão ainda é mais grave, e este episódio foi todo ele injusto. Já basta a dimensão da nossa dor e da nossa perda, para que nos venham relembrar de que realmente fomos privados de algo imensamente magnífico.

Quando olho para uma grávida, não olho com cobiça mas como se estivesse a ver-me num espelho chamado FUTURO. Quando é que esse espelho se passará a chamar PRESENTE.
Só penso no dia em eu vou estar assim.


Nunca te esqueceremos! És o nosso primeiro e adorado filho. Até amanhã.
Beijoquinhas dos Papás que te adoram
.

sábado, novembro 05, 2005

Eras o nosso raio de luz



A avó doente, o avó desolado, a tia chateada, o pai desempregado. Só tu nos fazias acreditar. Mas a nuvem negra que teima em não desaparecer.
Por vezes é difícil arranjar forças para contínuar sem ti meu amor. As saudades são tantas que não conseguimos descrever. Só nos resta falar contigo para minimizar o nosso sofrimento.

Porque é que partiste? Não conseguimos entender! Porque teve que ter este fim?


Dois dias de tanta felicidade que não conseguimos esconder. Quem olhasse para nós saberiam que tinhamos algo para contar. Três dias de receio de te perder. Andava contigo como se andasse a aprender a andar de novo, com medo de cair e de te perder. Medo de fazer algum movimento mais brusco e fosse o fim. Mas não, o destino estava traçado acontecesse o que acontecesse, nada o poderia mudar. Quando te perdemos foi a primeira coisas que perguntámos ao médico: Poderia ter andado stressada, ter feito algum esforço, para isto acontecer? A resposta foi clara: Não! Nada explica o sucedido. E pronto lá foste arrancado dentro de mim.
Desculpa a minha fraqueza mas a mãe não conseguiu suster as lágrimas quando viu pela última vez o pai antes de entrar para o bloco. Ele estava doido, esse é o termo mais correcto. Estava com um olhar vazio e ao mesmo tempo assustado por nós os dois. Só lhe consegui dizer: O nosso bebé! e as lágrimas começaram a cair. Quando me deitei na cama do bloco a Sr. Enfermeira pergunta-me: Está a chorar porquê? Ainda é nova mais filhos virão? Mas eu queria-te só a ti! Será que ninguém me entendia! No momento eu entendi que foi a melhor forma que ela tinha encontrado para me animar mas agora acho que não foi muito feliz.

Hoje terias 12 semanas meu amor.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Sentimentos

Foste-nos apresentado numa sexta feira, logo pela manhã. A prova da tua existência vinha num envelope com a palavra POSITIVO!
Ainda hoje temos esse papel que nos comprova a tua existência. Ficámos extasiados e logo ali começamos a amar-te com um amor que ainda hoje existe e que não irá terminar nunca.
Depois partimos para os nossos trabalhos, eu sozinho e a tua mãe na tua companhia. Só nos voltámos a reunir os três à noite bem tarde. Sábado, a mãe foi trabalhar pelo que só no Domingo de manhã tivemos hipótese de estar os três. E foi tão bom... Finalmente tinhamos o nosso querido filho. Tudo era um sonho. Na euforia, contámos da tua existência aos avós e primos que também ficaram radiantes com a tua existência.
Os problemas não tardaram, e logo após o almoço a mãe sentiu-se mal e tivemos que ir ao hospital. Aqui, as nossas vidas pararam. Só tu e a saúde da mãe eram importantes. Idas e mais idas ao hospital, uma aflição medonha, a mãe em grande sofrimento e eu desesperado por vocês os dois (ou duas, a mãe acha que és um rapaz mas eu tenho as minhas dúvidas, acho que és uma linda menina com os lindos lábios da tua mãe). Finalmente (e espero que entendas esta palavra), a mãe foi admitida no bloco operatório às 21h de 4ª feira, dia 21 de Setembro. Tu partiste e a mãe perdeu a trompa direita.
Nessa noite, a pior da minha vida, voltei para casa sozinho. A casa nunca pareceu tão grande e tão fria. Deixei a mãe no Hospital ainda meio tonta com a anestesia e o meu coração ficou tão apertado toda a noite a pensar em vocês, no que a mãe estava a passar e como se estava a sentir; estaria bem no Hospital; teria frio; fome; medo...
Depois o que se passou tu sabes. Cinco dias no Hospital, muitas dúvidas, medos e uma enorme saudade.
Finalmente o grande dia do regresso da mãe a casa, com um misto de alegria e tristeza. Trinta dias de recuperação fisica e sobretudo psicológica e a tentativa de prosseguir com as nossas vidas o mais normalmente possível.
Durante estes dias eu só tenho estado preocupado com a forma como a mãe tem lidado com a situação e tenho tentado enganar todos, até eu próprio, quanto ao meu estado psicológico mas este último fim de semana, através da tua prima Joana conhecemos o blog de uma senhora que passou pelo mesmo que nós e depois de lermos as suas experiências e de eu ter visto o que sentia traduzido em palavras não consegui mais guardar cá dentro o que sinto e o que penso sobre tudo isto e as saudades que sinto de ti.

E aqui estou eu a escrever-te estas linhas, lidando com a minha dor da melhor maneira que sei, sempre com o pensamento no que poderia ter sido ter-te connosco.
Até amanhã, meu amor...