sexta-feira, novembro 04, 2005

Sentimentos

Foste-nos apresentado numa sexta feira, logo pela manhã. A prova da tua existência vinha num envelope com a palavra POSITIVO!
Ainda hoje temos esse papel que nos comprova a tua existência. Ficámos extasiados e logo ali começamos a amar-te com um amor que ainda hoje existe e que não irá terminar nunca.
Depois partimos para os nossos trabalhos, eu sozinho e a tua mãe na tua companhia. Só nos voltámos a reunir os três à noite bem tarde. Sábado, a mãe foi trabalhar pelo que só no Domingo de manhã tivemos hipótese de estar os três. E foi tão bom... Finalmente tinhamos o nosso querido filho. Tudo era um sonho. Na euforia, contámos da tua existência aos avós e primos que também ficaram radiantes com a tua existência.
Os problemas não tardaram, e logo após o almoço a mãe sentiu-se mal e tivemos que ir ao hospital. Aqui, as nossas vidas pararam. Só tu e a saúde da mãe eram importantes. Idas e mais idas ao hospital, uma aflição medonha, a mãe em grande sofrimento e eu desesperado por vocês os dois (ou duas, a mãe acha que és um rapaz mas eu tenho as minhas dúvidas, acho que és uma linda menina com os lindos lábios da tua mãe). Finalmente (e espero que entendas esta palavra), a mãe foi admitida no bloco operatório às 21h de 4ª feira, dia 21 de Setembro. Tu partiste e a mãe perdeu a trompa direita.
Nessa noite, a pior da minha vida, voltei para casa sozinho. A casa nunca pareceu tão grande e tão fria. Deixei a mãe no Hospital ainda meio tonta com a anestesia e o meu coração ficou tão apertado toda a noite a pensar em vocês, no que a mãe estava a passar e como se estava a sentir; estaria bem no Hospital; teria frio; fome; medo...
Depois o que se passou tu sabes. Cinco dias no Hospital, muitas dúvidas, medos e uma enorme saudade.
Finalmente o grande dia do regresso da mãe a casa, com um misto de alegria e tristeza. Trinta dias de recuperação fisica e sobretudo psicológica e a tentativa de prosseguir com as nossas vidas o mais normalmente possível.
Durante estes dias eu só tenho estado preocupado com a forma como a mãe tem lidado com a situação e tenho tentado enganar todos, até eu próprio, quanto ao meu estado psicológico mas este último fim de semana, através da tua prima Joana conhecemos o blog de uma senhora que passou pelo mesmo que nós e depois de lermos as suas experiências e de eu ter visto o que sentia traduzido em palavras não consegui mais guardar cá dentro o que sinto e o que penso sobre tudo isto e as saudades que sinto de ti.

E aqui estou eu a escrever-te estas linhas, lidando com a minha dor da melhor maneira que sei, sempre com o pensamento no que poderia ter sido ter-te connosco.
Até amanhã, meu amor...